Seus atos irão conduzi-la ao limiar de uma nova vida, que passará a ser guiada por aquilo que ela deseja, e não pelo que despreza. Maria fica em dúvida diante de uma nova possibilidade que surge, mas acaba decidindo seguir em frente, levada por sua coragem e fé. Maria Cheia de Graça não é uma história real, mas poderia ser, pois é algo que acontece todos os dias.
Maria Alvarez cresceu numa cidadezinha do interior de Bogotá, fincada em meio aos verdes vales da zona rural, situada ao norte da capital. É o tipo de lugar onde três ou mais gerações de uma mesma família passam suas vidas morando na mesma casa. Maria vive numa casinha modesta de cimento com sua avó, mãe, irmã e um sobrinho ainda bebê.
Todas as manhãs, antes do dia clarear, Maria sai de casa, caminha até o ponto onde espera pelo ônibus e segue para seu local de trabalho, uma plantação de rosas, localizada na periferia da cidade. Seu emprego é entediante e medíocre, além de severamente controlado. Ao lado de Blanca, sua melhor amiga, Maria passa seus longos dias em pé, retirando espinhos de rosas e montando buquês, que depois serão vendidos e exportados para outros países.
Algumas vezes o fim de semana tem a rotina quebrada por uma festa ou outra, que sempre acontece na pracinha, atraindo quase todo o povo da pequena cidade, que sai em busca de distração e da música ao vivo. Maria está sempre disposta a dançar todas as músicas, desde as salsas até as cumbias, enquanto Juan, seu namorado, se contenta em ficar por perto, bebendo aguardente.
Em pleno auge de seus 17 anos, Maria, que é uma moça cheia de vida, espirituosa e destemida, encontra-se diante de um mundo limitado, que a impede de qualquer oportunidade de progresso ou crescimento, mas ela se recusa a permanecer desta forma. Em casa, constantemente entra em conflito com a família, principalmente com a irmã Diana. O pagamento semanal de Diana agora é destinado apenas a seu bebê, e mesmo tendo imensa afeição pelo pequeno sobrinho, Maria fica ressentida, por ver-se obrigada a assumir a parcela financeira da irmã, que já não tem como contribuir nas despesas da casa.
No trabalho, Maria esforça-se para tolerar um sistema rigoroso e controlador, onde tudo é racionado, desde a confecção dos buquês, até os intervalos para ir ao banheiro. Além disso, ela também não se sente disposta a fazer o papel de namorada cordata e complacente para Juan, que, por sua vez, não compartilha e tão pouco compreende o espírito aventureiro da jovem. A única pessoa que parece dar valor à sua rebeldia e seu modo de ser é Blanca, permanecendo sempre a seu lado, pronta para aceitar suas sugestões e seguir o caminho que for lhe for sugerido.
É justamente a personalidade forte e impetuosa de Maria, que está prestes a conduzi-la a uma direção diferente e perigosa.
Um dia, durante o expediente de trabalho, Maria sente-se mal e pede permissão para ir ao banheiro. Seu supervisor hostil nega-lhe o pedido com aspereza e dá início a um sermão sobre sua falta de ética e pouco comprometimento com o trabalho. Em meio à discussão, Maria tem um rompante e pede demissão. Sua família reage estarrecida e furiosa, mas Maria se recusa a pedir desculpas pela atitude impulsiva, e muito menos pretende reconsiderar sua decisão.
No entanto, há outra questão que vem lhe atormentando a mente: ela está grávida, o que vem sendo mantido em segredo. Algum tempo depois, Juan se propõe a casar-se com ela, mas apenas pelo fato de que isto é o que todos esperam dele, mas para Maria, esse não é um motivo suficientemente forte para unir-se a ele.
Por conta das escassas oportunidades locais de emprego, sua melhor perspectiva é uma amiga, que trabalha como empregada doméstica em Bogotá, e que talvez possa ajudá-la a conseguir um outro trabalho. Ela está no caminho em direção à cidade, quando outra alternativa se apresenta, na figura de Franklin, um estranho que se aproxima, jovem e intrigante, aparentando muita segurança em si mesmo. Maria o havia visto na festa da praça, no último fim de semana.
Franklin representa um contraste absoluto de Juan, assim como dos outros rapazes da cidade de Maria, a começar pelo seu modo de vestir. O rapaz está trajando uma jaqueta de couro da moda, tem um modo galanteador e cheio de charme. Fica claro que ele vem de uma região diferente da Colômbia.
Muito bem articulado, ele sabe como tecer elogios e rapidamente desperta o interessa de Maria por sua conversa, especialmente quando menciona um emprego interessante, no qual é necessário viajar, algo que ela jamais havia tido a oportunidade de fazer. Quando Franklin menciona a expressão ‘mula’, Maria imediatamente percebe do que ele está falando: engolir dúzias de cápsulas, recheadas de heroína, e transportá-las aos Estados Unidos.
Maria já havia ouvido falar sobre o assunto nos noticiários, sabia um pouco sobre as ‘mulas’ que constantemente eram flagradas, mas continua ouvindo cautelosa. Franklin, com ares de quem sabe o que diz, descreve essas pessoas como gente em busca da fama, que se deixa flagrar propositalmente, apenas para aparecer na televisão. Uma garota esperta como Maria não teria problemas...
O fator decisivo, como sempre, é o dinheiro: ele oferece até 5.000 dólares por uma viagem apenas, quantia que iria mudar para sempre a vida dela. Deixando seus receios de lado, Maria concorda em conhecer seu provável ‘empregador’, um homem chamado Javier, que fala num tom paternal quase desconcertante, explicando as atribuições do trabalho de forma simples e casual.
Javier insiste em dar-lhe uma pequena ajuda, apenas um para seus problemas financeiros, enquanto a moça reflete a respeito de sua oferta. Embora Javier lhe assegure que o presente não representa qualquer vínculo, Maria percebe que o acordo foi selado. Ela então conhece e torna-se amiga, de outra mula, uma mulher chamada Lucy, que lhe conta tudo o que precisa saber: como se preparar fisicamente, como se vestir, como agir – e também como ela irá morrer, caso uma das cápsulas dentro dela venha a se romper...
Lucy já havia feito a viagem como mula duas vezes e, a julgar pelas aparências, o trabalho lhe proporcionara uma boa independência financeira, constatada pela casa confortável, que mantinha só para ela. Ainda assim, quando Lucy fala sobre suas viagens para Nova Iorque, confidencia não ter tido coragem para ir visitar a irmã, que lá reside, no bairro de Queens.
Com uma compreensão mais profunda sobre os riscos que a aguardam neste novo caminho, Maria fica apreensiva e ao mesmo tempo zangada, quando Blanca lhe conta que também fará este serviço. Blanca, no entanto, não irá - nem poderá - dar para trás. Ela já havia aceitado o dinheiro.
Ao longo das 24 horas seguintes, Maria é obrigada a engolir as cápsulas, uma a uma, sessenta e duas no total, enquanto Javier mantém os olhos nela. No dia seguinte, ao embarcar no avião, Maria descobre que está viajando no mesmo vôo em que estão Blanca, Lucy e uma quarta garota, todas traficando as cápsulas...
Não parece que esta será uma viagem ‘tranqüila e sem qualquer problema’, como Franklin havia prometido.
Durante o vôo, Lucy começa a demonstrar sinais de indisposição, dando a impressão de que uma das cápsulas pode ter se rompido em seu estômago e estaria penetrando em sua corrente sangüínea. Ao chegarem aos Estados Unidos, a situação se complica ainda mais, quando oficiais da alfândega detém a quarta moça e a levam presa.
Algum tempo depois, Maria e Blanca tornam a se encontrar, desta vez no quarto de um motel fuleiro em Nova Jersey, onde são supervisionadas friamente por dois jovens, enquanto dão início ao processo humilhante para expelir as cápsulas. Enquanto isso, o estado de Lucy parece estar se agravando. Maria faz o que pode, mas os dois homens permanecem indiferentes.
Ao acordar na manhã seguinte, Maria encontra o banheiro coberto de sangue, e vê que Lucy e os dois homens já não estão mais lá. Ela arranca Blanca da cama e as duas fogem, levando com elas as drogas que transportaram. Em meio a este ambiente obscuro totalmente desconhecido, Maria possui apenas uma informação que poderá guiá-la: o nome e o endereço de Carla, irmã de Lucy.
Durante os dias que estão por vir, Maria irá deparar-se com situações que definitivamente irão colocar à prova toda a sua força, coragem e seu lado humano. Contando apenas com seu instinto e sua inteligência para guiar seu caminho, ela emerge de forma surpreendente, com uma compreensão maior, que irá conduzi-la a uma nova vida.
